sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Um sorvete para esquentar, por favor.

Há um ano tenho sofrido o martírio da forçada inserção na vida adulta - amadurecer nunca foi fácil, ainda mais quando não se conta com calendários com datas e prazos demarcados, ar-condicionado e cadeiras confortáveis, amigos em cada corredor e professores-pais.
O contato é cada vez mais raro e nem os íntimos escapam da exclusão informativa 'o que faz agora', 'o que aconteceu', 'quando casou' lalala_
O que se pode fazer é usar a internet e sua impessoalidade.
O que se pode fazer é usar o telefone e seu esquentar-de-orelha.
O que se pode fazer é, tcharaam, tomar sorvete.
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Uns quatro meses atrás, eu era um ponto do RU junto ao Gabriel - se fala 'Guêibriel'....
Misturamos à farofa e ao mousse de 50 cents algumas lágrimas saudosas - rememorando os gloriosos dias de felicidade-eterna masoquista. Os empurra-puxa-estica de Léo e Ubira.
Léo é mais ou menos uma Dona Florinda com altos indices de testosterona - cabelo enrolado, barbuda, alto, mãozona, despreocupado, artista, sarcástico - tudo o que uma mulher deve temer.
Ubira é um negão bruto, risonho, sincero, inteligente e vagabundo, odeia pobres e sempre discutimos por isso - tudo o que uma mulher e um pobre devem temer.
Parecidos. E era dose suficiente pra acabar com a minha depressão nerd-metafísica do primeiro ano.
Ao fim do ano, tinha mais desenho e poesia que matérias e exercícios copiados em meu caderno - foi aí que me entreguei à arte.
Ao fim de cada dia, eu aparecia mais roxa que uma beringela - respeitado o meu jeito hiperbólico de descrição. Mas era uma violência divertida, violência de amigo. Nada que rendensse processos e denúncias na delegacia da mulher. Era só a diversão por ela mesmo.
Eu lembro que Ubira me deu uma margarida em março, no aniversário de 15 anos de Jéssica Macau, aprendendo com Renanta a ser cavalheiro.
Eu lembro que Léo me abraçou - e nunca mais me abraçou daquele jeito antes do dia em que me deu a notícia de sua partida pra Fortaleza - quando descobri que meu pai tinha problemas sérios de insuficiência cardíaca. E que me olhou: tu tá ficando uma égua de grande, mulher! Tu vai partir ao meio.
E a gente ria. E logo tava discutindo, se abraçando, conversando, brincando de porrada.
E Guêibriel no meio. Apanhando mais que eu. Sem dó nem piedade.
Éramos quatro.
Eu com os quatro.
Eu com esse.
Eu com aquele.
Sempre por cima.
Nunca por baixo.
As melhores lembranças do primeiro ano.
Um vácuo incômodo no segundo ano.
Uma resistência de 100 mil oms no terceiro ano.
E um flash agora.... Com contados quatro anos do primeiro contato com esses seres encapetados.
.
.
Trin Trin Trin - alguém ligou pra mim...
Quem é?
Bira...
Após quinhentas risadas, após me chamar de galuda por toda minha boa educação, contar as antigas novidades... pairou uma pergunta:
"E o sorvete, Rafa?''
Eu nunca admitiria...
a pergunta que eu esperava.
Finalmente pôr fim a toda frieza do mensageiro estantâneo, do site azul - e agora rosa, verde, cinza ou laranja - de relacionamento do google,
Um sorvete.
Domingo à tarde.
E, claro, os velhos tempo.
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Rafa Andrade

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