terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O circo.

A frase que mais me chamou atenção durante o curtíssimo período que fiquei em CNC's Sociais foi uma de Nietzsche, um psicopata abençoado com uma genialidade que nunca entendi:
"A ilusão é necessária à vida"
E não é de todo mentira - pr'o meu lamento.
Os poetas e os loucos - e os românticos, que são os dois de um só tapa - retirado o caráter científico, embebem com alma (triste alma) outras palavras na forma de suspiro... um suspiro mais humano:
"Ai quem me dera uma feliz mentira que fosse uma verdade para mim!"
E Florbela, a minha mais nova inspiração-de-tudo, foi a mais feliz de todas... Por ser louca e poeta e romântica e mulher.
Retrata de um jeito que nem eu conseguiria - talvez eu começo agora a entender o benefício indissociável de qualquer poesia - tudo do que meu coração está cheio e que minha boca não fala, ao contrário do que prevê a Bíblia - existem coisas de que o coração está cheio e que pela boca não ganham o mundo.
Não fala por ser tudo duro demais.
Por faltar coragem - logo em miim, absolutamente irreconhecível.
Nessas horas não existem travesseiros no mundo que abafem cristais que pendem de outros cristais por um outro cristal rompido - o problema em ser louca, em ser poeta, em ser romântica, em ser mulher.
Não existem conselhos de amigas.
Abraços confortáveis.
Nem o sorvete me é útil.
É tão mais encantador quando se crê que o coelho saiu mesmo da cartola, que o copo se move sozinho e que um lenço vira muitos outros e que se tornam uma flor.
Mas o circo não fica montado pra sempre. O palhaço tira a tinta, a bailarina tem dores nos pés e o espetáculo finda.
O coelho existe independente da cartola.
O lenço é só um lenço, diferente dos outros zilhões de lenços que nunca se transformam em flor alguma.
Pagamos pra ver o show por acreditar que ali tudo está fincado permanentemente - a luz, os aplausos, as piadas, a pipoca e a música serão eternos enquanto ... durar? - que piegas.
Lona à baixo, analiso de perto.
E redimensiono com exatidão tudo o que engoli sem sentir o gosto.
Só um refluxo insuportável na garganta.
Nunca é tarde pra pôr fim ao show.
Ironicamente, não se sabe de onde, surgem forças que me deixam louca, poeta, romântica e mulher. Só que não uma qualquer, sem importância, uma mulher de coragem.
Preenchida de indecisão nos termos que cercam o paradoxo da coragem: corajosa por deixar o show prosseguir, por começar um outro espetáculo ou por desistir da vida de circo.
Em Nietzsche isso é absolutamente impossível.
Ou seja, parece que fiz uso de alucinógenos.
Quando me seria suficiente uma anestesia de efeito prolongadíssimo - um botão de piloto automático.
Enquanto a biotecnologia não mo permite, segue o poema que é meu, que é da Florbela, que é de todas as loucas, poetas, românticas - de todas as mulheres (porque ser mulher -de verdade - é ser tudo isso de um tapa só, e mais - é deixar-se viver, pressupondo uma ilusão).
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Tu julgas que eu não sei que tu me mentes
Quando o teu doce olhar pousa no meu?
Pois julgas que eu não sei o que tu sentes?
Qual a imagem que alberga o peito meu?
Ai, se o sei, meu amor! Em bem distingo
O bom sonho da feroz realidade...
Não palpita d´amor, um coração
Que anda vogando em ondas de saudade!
Embora mintas bem, não te acredito;
Perpassa nos teus olhos desleais
O gelo do teu peito de granito...
Mas finjo-me enganada, meu encanto,
Que um engano feliz vale bem mais
Que um desengano que nos custa tanto!
e quantos cristais tem me custado.
/terrivelmente desiludida.
Rafa-como-outras-tantas.

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