quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

A geração Orkut e a Dona Morte.

"Obrigada, filha" - memorizei dia e horário.
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São Luís - 31 de dezembro, 07:25 da manhã.
Minha mãe me agradecendo, certamente não por estar ajudando com o banquete de logo mais.
Eu não estou carimbada, defino assim.
Não fui eu quem disse.
Foi a pessoa mais crítica e rigorosa do mundo que eu conheço, e que, por ser minha mãe, aumenta exponencialmente a aplicação de seus estrategemas, critérios e correções.
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São Luís, 30 de dezembro, 16:00 hrs - Residência Andrade.
Quatro jovens, estudantes de Direito, da classe média, estão reunidos para uma sessão de cinema com pão-de-queijo duro, cachorro-quente e sorvete.
Antes de tudo o assunto é: a tendência a suicída de um colega de classe do primeiro período.
Momento de reflexão: nulo.
'Ah, coitado. Quer se matar. E então? Deixa eu entrar no Twiter!!!'
Ha!
É até compreensível que alguns queiram apagar os rastros de sua existência nesse mundo.
Muito compreensível.
Mas reparável.
O suicídio, em Dukheim, acontece por quatro motivos, disserta o próprio em seu livro com o título de O Suicídio. O que está em questão se trata do EGOÍSTA, cacterizado pela fragilidade de ligações com os valores e princípios da sociedade contemporânea ao evento - agora me pergunte: que valores, que princípios? O google responde: você quis dizer precipícios .
É um contra todos. Uma batalha interna.
É o que na biologia chamamos de autofagia - uma célula se distrói em detrimento de um sistema, de um organismo - isso de nada tem de agoísta, querido mestre Durkheim. Problemas semânticos à vista.
É difícil encontrar, numa perspecitiva microcósmica, um Winston - 1984 - os em potencial, antes de tudo, são vaporizados - por si mesmo, até.
O importante é mudar o fim das tragédias.
Acreditar.
Precisamos de acreditar- em 2010 e em todos os anos seguintes.
Precisamos de amor e Solidariedade - companheirismo e atenção [dar pra receber].
De descobrir o que há de melhor em nós.
Mostrar a todos - sem medo do escrutínio público - anunciar aos 4 ventos, comprometer-se.
Sem a pretenção de ser apenas bom.
O objetivo é ser melhor - que não é necessariamente O melhor.
Não queime o orkut. Utilize o orkut. O twiter.
O problema não está nas coisas, mas no que se faz com elas.
Albert Einstein não criou a bomba atômica pensando de Hiroshima e Nagazaki - na destruição, na vigança.
Ele se matou.
Não é tão óbvio o motivo?
Começo a pensar que quem se mata dessa forma, dada as circunstâncias atuais, busca - mesmo que de maneira pouco inteligente, escassa de raciocínio e desesperada, acima de tudo - mais a vida do que esses que persistem em respirar da futilidade, cultivar-se no vazio.
Renato Russo foi muito positivo em pensar nos filhos da Revolução como rebeldes contra os vanguardistas rebeldes. Estava errado.
Os filhos da revolução não se revoltam nem contra os pioneiros revoltados. É como um apêndice - aqueles órgãos que, por desuso, se atrofiam, até se perderem nos próximos ramos da filogenia.
Enlatados.
Fast-food.
Não é pecado. São os tempos modernos - e devemos acompanhar as transformações.
Mas não deve ser essência.
O Grande Irmão é cada um - é só o resultado da constante individual dos homens do século XXI
Só não podemos deixar de nadar anaklusmos - contracorrente.
É só converter - reverter.
Jesus não transformou água em vinho?
A Ceifadora está sempre à espreita das mentes espetaculares.
Pensar demais tem esse aspecto negativo.
Pensar demais mesmo tem este aspecto positivo.
A gente acredita nas mudanças.
Um 2010 de vida a todos.
Pela metamorfose do Grande Irmão de cada um.
Rafa Andrade. XDD
"Aquele que deu o melhor de si para sua própria época
viveu para todas as épocas"
Johann von Schiller, dramaturgo.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Vícios de consentimento

"De todo o meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto" ... e só.
E só, não.
Que é muito.
É muito mesmo.
Mas "muito pra mim é nada.
Tudo pra mim não basta. (8)"
Não sei ao certo qual o crime - mas diz o Direito que, quando ambos agem com dolo, não podem alegar isso frente ao juíz.
O negócio ainda subsiste.
Ainda.
Subsiste.
Paradoxalmente, inexiste.
Dentro não haveria mais nada.
O papel, a letra, a assinatura -convenção humana.
A infidelidade ao outro - desumano.
A si mesmo -uma batida gelada de alter e ego, pelo outro e por si - desce rasgando - cai sobre-humano.
Até que a chama apague, se existiu aos dois.
Nem o poeta acredita nas reticências do amor.
Ao menos não desacredita nele.
Quem não sente a letra, a rima, o verso do real é porque está preso em si - ou no imaginário - ou talvez sejam sinônimos.
O calor - é real ou é sentido?
A chama - se vê ou se sente?
Exclusão... nunca se pode adorar a dois deuses - de fato.
Vícios de consentimento.
Conscentir.
Sentir.
Um vício, de fato, de Direito.
É real.
É ilusório.
Um duplipensar de doido.
Não tão infiel.
Mas ainda, sim, infiel.
Talvez esperto.
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A ordem é sobreviver ao sistema, Winston.
A verdade só existe na consciência. E em nenhuma outra parte.
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Rafa - cheia de caraminholas
"Estou cansada de ouvir que eu só sei amar errado
estou cansada de me dividir...
O que é certo no amor, quem é que vai dizer?
o que falar, calar ou querer..
Eu quero absurdos (8)"

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O circo.

A frase que mais me chamou atenção durante o curtíssimo período que fiquei em CNC's Sociais foi uma de Nietzsche, um psicopata abençoado com uma genialidade que nunca entendi:
"A ilusão é necessária à vida"
E não é de todo mentira - pr'o meu lamento.
Os poetas e os loucos - e os românticos, que são os dois de um só tapa - retirado o caráter científico, embebem com alma (triste alma) outras palavras na forma de suspiro... um suspiro mais humano:
"Ai quem me dera uma feliz mentira que fosse uma verdade para mim!"
E Florbela, a minha mais nova inspiração-de-tudo, foi a mais feliz de todas... Por ser louca e poeta e romântica e mulher.
Retrata de um jeito que nem eu conseguiria - talvez eu começo agora a entender o benefício indissociável de qualquer poesia - tudo do que meu coração está cheio e que minha boca não fala, ao contrário do que prevê a Bíblia - existem coisas de que o coração está cheio e que pela boca não ganham o mundo.
Não fala por ser tudo duro demais.
Por faltar coragem - logo em miim, absolutamente irreconhecível.
Nessas horas não existem travesseiros no mundo que abafem cristais que pendem de outros cristais por um outro cristal rompido - o problema em ser louca, em ser poeta, em ser romântica, em ser mulher.
Não existem conselhos de amigas.
Abraços confortáveis.
Nem o sorvete me é útil.
É tão mais encantador quando se crê que o coelho saiu mesmo da cartola, que o copo se move sozinho e que um lenço vira muitos outros e que se tornam uma flor.
Mas o circo não fica montado pra sempre. O palhaço tira a tinta, a bailarina tem dores nos pés e o espetáculo finda.
O coelho existe independente da cartola.
O lenço é só um lenço, diferente dos outros zilhões de lenços que nunca se transformam em flor alguma.
Pagamos pra ver o show por acreditar que ali tudo está fincado permanentemente - a luz, os aplausos, as piadas, a pipoca e a música serão eternos enquanto ... durar? - que piegas.
Lona à baixo, analiso de perto.
E redimensiono com exatidão tudo o que engoli sem sentir o gosto.
Só um refluxo insuportável na garganta.
Nunca é tarde pra pôr fim ao show.
Ironicamente, não se sabe de onde, surgem forças que me deixam louca, poeta, romântica e mulher. Só que não uma qualquer, sem importância, uma mulher de coragem.
Preenchida de indecisão nos termos que cercam o paradoxo da coragem: corajosa por deixar o show prosseguir, por começar um outro espetáculo ou por desistir da vida de circo.
Em Nietzsche isso é absolutamente impossível.
Ou seja, parece que fiz uso de alucinógenos.
Quando me seria suficiente uma anestesia de efeito prolongadíssimo - um botão de piloto automático.
Enquanto a biotecnologia não mo permite, segue o poema que é meu, que é da Florbela, que é de todas as loucas, poetas, românticas - de todas as mulheres (porque ser mulher -de verdade - é ser tudo isso de um tapa só, e mais - é deixar-se viver, pressupondo uma ilusão).
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Tu julgas que eu não sei que tu me mentes
Quando o teu doce olhar pousa no meu?
Pois julgas que eu não sei o que tu sentes?
Qual a imagem que alberga o peito meu?
Ai, se o sei, meu amor! Em bem distingo
O bom sonho da feroz realidade...
Não palpita d´amor, um coração
Que anda vogando em ondas de saudade!
Embora mintas bem, não te acredito;
Perpassa nos teus olhos desleais
O gelo do teu peito de granito...
Mas finjo-me enganada, meu encanto,
Que um engano feliz vale bem mais
Que um desengano que nos custa tanto!
e quantos cristais tem me custado.
/terrivelmente desiludida.
Rafa-como-outras-tantas.

Classificado.

Eu procuro.
Eu não sou. Posso até ser.
Aliás, eu sou.
Mas procuro alguém que também seja.
É incomum - há quem tome por insano - dar descarga na tão suada individualidade conquistada através dos séculos, das tranformações políticas, econômicas, sociais, religiosas, até.
Só que um lapso me faz nadar contra a corrente neste exato instante.
A ciência social trata por teoria da existência, no mundo, em circunstâncias semelhantes, de algum ser quase similar a mim, em conteúdo, em valores e no tudo-o-mais que me faz eu/me.
Da mesma forma, isso serve a ti, a tua mãe, a qualquer invólucro com alma por essas e aquelas plagas.
Ou seja, a identidade é uma ilusão [?] - Nan, nan. Basta reconceituar, eu acho - mas essa é uma outra questão.
Eu já joguei fora o desejo, as evoluções e revoluções 'de' e 'pela' individualidade, que nada me custa mais que um big-big fazer o mesmo com a ciência - social ou não.
Agora eu quero o senso-comum e o êxtase da contra-revolta, por assim dizer.
Eu quero alguém igual a mim.
Por favor, não me obrigue a apontar - ou me desapontar.
Estou tal qual Crusoé em sua ilha, em fase de adaptação ao isolamento. Eu em meu corpo, em minha consciência, que não tardará em elaborar personagens múltiplas para fazer jogo com o Eu protagonista.
O meu querer é puro, não é o desejo por amor ou por ele mesmo, como é típico [e necessário] aos animais.
É algo que vem mais de dentro e que não consigo externar nas melhores palavras - todas me fogem, não abrangem, não descrevem - são vazias demais da profusão de emoções que a alma existencialista é repleta.
O que eu quis dizer, mais ou menos é:
1) Eu aceito o diferente. Me divirto com o diferente. Respeito o diferente...
não obstaanteee...
2)Posso viver com muitos diferentes, mas nunca com igual algum.
Infira:
vou pedir à fadinha do dente, esta noite, que me aponte o Ser desta vida semelhante a mim.
Quero analisar de longe, quero estar após por perto e depois decidir, por mim.
É triste se sentir único quando se pode.
Leia bem, se sentir.
Tô tentando acreditar que não sou.
Odeio estar enganada.
Odeio o Crusoé e sua filosofia.
Eu não quero ilhas, nem Sexta-feira, nem revoluções.
Um igual, um semelhante, fazei contato.
Blah!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Um sorvete para esquentar, por favor.

Há um ano tenho sofrido o martírio da forçada inserção na vida adulta - amadurecer nunca foi fácil, ainda mais quando não se conta com calendários com datas e prazos demarcados, ar-condicionado e cadeiras confortáveis, amigos em cada corredor e professores-pais.
O contato é cada vez mais raro e nem os íntimos escapam da exclusão informativa 'o que faz agora', 'o que aconteceu', 'quando casou' lalala_
O que se pode fazer é usar a internet e sua impessoalidade.
O que se pode fazer é usar o telefone e seu esquentar-de-orelha.
O que se pode fazer é, tcharaam, tomar sorvete.
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Uns quatro meses atrás, eu era um ponto do RU junto ao Gabriel - se fala 'Guêibriel'....
Misturamos à farofa e ao mousse de 50 cents algumas lágrimas saudosas - rememorando os gloriosos dias de felicidade-eterna masoquista. Os empurra-puxa-estica de Léo e Ubira.
Léo é mais ou menos uma Dona Florinda com altos indices de testosterona - cabelo enrolado, barbuda, alto, mãozona, despreocupado, artista, sarcástico - tudo o que uma mulher deve temer.
Ubira é um negão bruto, risonho, sincero, inteligente e vagabundo, odeia pobres e sempre discutimos por isso - tudo o que uma mulher e um pobre devem temer.
Parecidos. E era dose suficiente pra acabar com a minha depressão nerd-metafísica do primeiro ano.
Ao fim do ano, tinha mais desenho e poesia que matérias e exercícios copiados em meu caderno - foi aí que me entreguei à arte.
Ao fim de cada dia, eu aparecia mais roxa que uma beringela - respeitado o meu jeito hiperbólico de descrição. Mas era uma violência divertida, violência de amigo. Nada que rendensse processos e denúncias na delegacia da mulher. Era só a diversão por ela mesmo.
Eu lembro que Ubira me deu uma margarida em março, no aniversário de 15 anos de Jéssica Macau, aprendendo com Renanta a ser cavalheiro.
Eu lembro que Léo me abraçou - e nunca mais me abraçou daquele jeito antes do dia em que me deu a notícia de sua partida pra Fortaleza - quando descobri que meu pai tinha problemas sérios de insuficiência cardíaca. E que me olhou: tu tá ficando uma égua de grande, mulher! Tu vai partir ao meio.
E a gente ria. E logo tava discutindo, se abraçando, conversando, brincando de porrada.
E Guêibriel no meio. Apanhando mais que eu. Sem dó nem piedade.
Éramos quatro.
Eu com os quatro.
Eu com esse.
Eu com aquele.
Sempre por cima.
Nunca por baixo.
As melhores lembranças do primeiro ano.
Um vácuo incômodo no segundo ano.
Uma resistência de 100 mil oms no terceiro ano.
E um flash agora.... Com contados quatro anos do primeiro contato com esses seres encapetados.
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Trin Trin Trin - alguém ligou pra mim...
Quem é?
Bira...
Após quinhentas risadas, após me chamar de galuda por toda minha boa educação, contar as antigas novidades... pairou uma pergunta:
"E o sorvete, Rafa?''
Eu nunca admitiria...
a pergunta que eu esperava.
Finalmente pôr fim a toda frieza do mensageiro estantâneo, do site azul - e agora rosa, verde, cinza ou laranja - de relacionamento do google,
Um sorvete.
Domingo à tarde.
E, claro, os velhos tempo.
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Rafa Andrade