quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Cacos

Quase um mês sem dar as caras.
Diria que por falta de tempo e motivação.
Mas estaria esquivocada.
Na verdade estava motivada, mesmo que em sentido de uma não-ação.
As razões ... também não existiriam como razões. Só como desatinos, mas compreensíveis por profissionais gabaritados a tanto e/ou mais certamente por algum corajoso entupido de ansiolíticos e axixe.
O fato é que, por todos esses dias, devaneios não me faltaram - como nunca hão de me faltar, rogo sempre às divindades.
Eu crio, reviso, corrijo. Na cabeça.
As mãos desobedecem.
["Qual é a múúúsica?"
a) Uma mão vai na cabeça, uma mão vai na cabeça, o movimento é sexy, o movimento é sexy (8)
b) Só sei que o corpo estremece, as pernas desobedecem. Inconscientemente, a gente dança. As mãozinhas, então, se balançam. Quando bate, eu vou atrás (8)
eu não consigo não cantar com o juizo]
Então...
não é que não exista produção intelectual.
[Intelectual no sentido de que é produzida pelo cérebro, tá? Nada de 'ui, eu sou uma saltadora epistemológia incompreendida.' - esqueçam. hahahaha.]
Só ficou assim, tímida, com tantas outras atividades a 220 volts.
E tão pouca produção de Serotonina.
Não que isso tenha mudado.
Apenas se intensificou, e nada mais "fossa" que redigir e contar pro mundo, que adora uma novela, alguns causos por meio de metáforas e crônicas desqualificadas[? - há controvérsias].
Pois bem.
Vamos ao que interessa.
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Um copo de vidro quebrou.
No banheiro alagado e já limpo.
[eu estou sem funcionária. tô quase exigindo meus direitos trabalhistas à mamãe e entrando em um sidicato. militância sempre esteve na veia]
As coisas acontecem de maneira tão simples nas nossas vidas, que não se fazem merecedoras de investidura da curiosidade aos olhos dos desatentos.
O que maravilha são as grandes coisas - magalomania ancestral humana, compreendida por mais de 2 mil anos de ciência. E, certamente por isso, a ciência vive o martírio de nunca encontrar a verdade; aliás, é esse seu objetivo, mas já sabe que só consegue uma aproximação. [ deve ser frustrante ]
Tudo bem - a escola me ensinou que nessa vida tudo tende a zero ou ao infinito, e eu arrico que talvez ambos sejam o mesmo no fim das contas ... e se tudo tende a isso, por que perder tempo tentando achar os 'logs' do universo... se o pré-sal é nosso? hahahaha.
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O que é pequeno, curto e simples é pequeno, curto e simples porque alguém diz que é e toodos os outros bobalhões acreditam.
Quero saber o que incomoda mais - se é uma tarça inteira e grande ou se é um caquinho brilhante que faz jorrar sangue no canto do dedão. ha!
Basta um pouco mais de empirismo e tudo se resolve. Dificil a quem está acostumado com teorias pura e simplesmente. Mas faz parte. A gente aprende é na porrada.
[Violência contra mulher é crime. Denuncie. Disque 147]
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Com cautela, eu fui limpar.
E passei vassoura e rodo e pano e catei cacos.
Os cacos.
E tudo aquilo me fez delirar, não vou dizer pensar porque pessoas normais é que pensam.
Pasmem, eu consegui limpar tudo descalça e sem me cortar, sem óculos ou lentes e sem paciência.
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O que eu queria dizer na verdade é como tudo tem uma utilidade, mesmo quando não óbvia. Basta uma situação.
A tarça me serve muito bem quando tarça.
E me serviu, pasmem², quebrada.
Quando já não era tarça.
Quando era caco.
A vida perfeita e completa te faz feliz e perfeito e completo.
E uma vida destroçada também pode te servir de muita coisa, da mesma forma que uma perfeita e completa e bem mais completamente que essa, sem te deixar igualmente destroçado.
Como?
Dizem que soldado bom é soldado treinado em terreno ruim.
Proposição verdadeira ou falsa?
Assertiva verdadeirississississima.
Claro, num super juízo de valor.
Eu torno válido o raciocínio porque eu julgo que é melhor [alguns tomam por pior] ter cacos que te movem, te impulsionam e, o mais importante, te ensinam, ao passo que a comodidade da tarça só te serve um bom vinho. [ no meu caso, não me agrada. então suco. refrigerante, não. tô malhaaando XD]
Mesmo que, por ventura, um acidente ocorra, nada vai ser como uma hemorragia.
Se se aprende com porrada, a dor é instrumento pedagógico.
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E antes que alguma viva - ou morta - alma levante contra o juízo de valor, eu vou fazer uma colocação que li e aprendi e nunca vou esquecer e sempre vou repassar - vai virar lição de avó pra neta. Agradeço ao Bobbio, enfim, por uma boa ação, em meu nome e de minha geração. Obrigada. - soluços emocionados.
Os juízos de valor são úteis.
E tornam mais úteis ainda as teorias.
Porque a finalidade da associação ideológica aí é otimizar, tão somente.
É fazer com que se cumpra o fim a que se presta a teoria.
É ceder a qualidade que desajamos.
Isso quer dizer, gente, a perfeição é a finalidade. Mas ela não está exatamente na perfeição que o homem criou como ideal.
Sabe aquilo de que o amor dos romances não é o amor da vida real? [Cotidianismo, Paulão!]
É como se a perfeição perseguida não fosse exatamente a perfeição real.
Aos amantes de física, a gente usa a analogia dos espelhos. Existe uma imagem e um objeto.
Na nossa situação, a imagem não corresponde ao objeto.
Mas o que fazer se o que sempre vai existir é o objeto e não a imagem?
Não é apologia ao realismo radical - longe disso.
É só uma unutilidade a mais nesse relicário, um desabafo, pra mostrar que mesmo estando um caco, faço dos cacos o que nem uma tarça por mim faria.
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Não perca tempo contando os cacos.
Lamentando as tarças quebradas.
Perca tempo - ou invista, use o melhor verbo que convier - delirando.
Lamente o perfeito.
E tome suco.
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Ao meu irmão, essa nota: xoxota com coceira.
Desculpa, gente.
Ele pediu pra eu escrever isso.
Que ridículo.
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/Rafa Andrade
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.Nosso suor sagrado é bem mais belo que esse sangue amargo
E tão sério
E Selvagem!
Veja o sol dessa manhã tão cinza
(...)
Então me abraça forte e diz mais uma vez que já estamos distantes de tudo.
Temos nosso próprio tempo
(...)
O que foi escondido é o que se escondeu
E o que foi prometido, ninguém prometeu
Nem foi tempo perdido
Somos tão jovens...